Aicep Global Parques reúne assembleia geral de acionistas
Escrito por Helga Nobre em 28 de Março, 2022
O presidente da comissão executiva da aicep Global Parques, Filipe Costa, considerou que 2021 foi “um excelente ano”, em termos comerciais, “com forte aumento da receita” e estimou um crescimento de cerca de 15% este ano.
“O crescimento da receita decorrente do aumento da taxa de ocupação” na Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS) é mais importante como indicador da atração de elevados investimentos produtivos estratégicos para Portugal do que por si”, refere o CEO da aicep Global Parques que realiza hoje uma assembleia geral de acionistas para apresentação do Relatório de Gestão e Contas e o Relatório de Governo Societário de 2021.
Os acionistas são a AICEP, Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI), a Administração dos Portos de Sines e do Algarve (APS), a Câmara Municipal de Sines e a Caixa Geral de Depósitos.
Em 2022, Filipe Costa, prevê um crescimento na ordem dos “14% e 15%”.
“Assumindo que o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] seja cerca de 16 mil milhões de euros a dividir por sete anos, entre 2022 e 2026 inclusive, significará, felizmente, apenas cerca de 1% do PIB por ano (…) O Complexo Portuário, Logístico e Industrial de Sines é o coração dessa vida económica nacional. Temos um pipeline de investimentos privados, em curso, confirmados e potenciais, já superior a 16 mil milhões de euros até 2030”, adiantou.
Na área da logística, os investimentos privados na expansão do atual terminal de contentores e no futuro terminal de contentores ‘Vasco da Gama’, no Porto de Sines, “somarão uns estimados 940 milhões de euros”, estimou.
Já na área das tecnologias, “temos 3.555 milhões de euros, em centros de computação, processamento e armazenamento de dados e estações de amarração de cabos submarinos de telecomunicações”.
Em termos de energia e indústria, estão previstos investimentos de “4.954 milhões de euros em reforços de investimento liderados por empresas já presentes na ZILS”, como a Repsol Química, GALP e EDP Produção e “mais cerca de 6.699 milhões de euros de investimentos por empresas que entram agora na ZILS, em gases renováveis e indústrias descarbonizadas e circulares”, exemplificou.
“Só os três grandes investimentos privados neste momento já em curso no Complexo de Sines somam quase 4,9mM€. Na Logística, pela PSA Sines (joint venture da PSA International e da MSC), temos 298M€ na duplicação do Terminal de Contentores (Terminal XXI). Nas Tecnologias temos os 3.380M€ do Start – Sines Transatlantic Renewable & Technology Campus (joint venture da Davidson Kempner com a Pioneer Point Partners), e, na Energia e Indústria, a Repsol Polímeros a investir 1.170M€ na expansão do seu Complexo Petroquímico de Sines”, realçou.
De acordo com o CEO da aicep Global Parques, a expansão da produção da Repsol Polímeros na ZILS, que inclui duas novas fábricas de polímeros, uma de polietileno e outra de polipropileno, a operar a partir do terceiro trimestre de 2025, terá “um impacto anual económico esperado de 1.000M€, entre 400M€ na substituição de importações, a geração de outros 400M€ de exportações (para um saldo de 800M€ na balança comercial) e a indução de mais 200M€ de consumo pela indústria nacional”.
“Importa sobretudo o efeito multiplicador na produção nacional e as subsequentes exportações de elevado valor acrescentado, ao disponibilizar polietileno e polipropileno, em quantidade e proximidade, como matérias-base dos principais ‘clusters’ da indústria exportadora portuguesa, desde os componentes automóveis aos produtos alimentares”, acrescentou.
A estas duas fábricas acresce uma “ecofábrica” de reciclagem química para etileno circular e bioetanol, que “pode revolucionar as taxas de reciclagem vs aterro nacionais”.
Quanto às marcas “Energia Sul” e “Sines Tech”, o CEO destacou a presença do primeiro ministro, António Costa, na assinatura do contrato de reinvestimento da Repsol Polímeros, na inauguração da Estação de Amarração do Cabo EllaLink e na assinatura do contrato de direito de superfície com o Start Campus em 23 de abril de 2021.
“Com uma nova centralidade relativa, otimizando os inputs e promovendo os outputs energéticos, de mercadorias e dados à economia nacional, o Complexo Portuário, Logístico e Industrial de Sines é estratégico no plano europeu e global, sendo já nó do “Corredor Atlântico” da RTE-T (Rede TransEuropeia de Transportes), cada vez mais um novo hub da eRTE (Rede TransEuropeia de Telecomunicações) e encerrando um enorme potencial quanto à RTE-E (Rede TransEuropeia de Energia)”, frisou.
Sobre a RTE-E, salientou “que o gás natural, beneficiando da rejeição do carvão e do nuclear, se tornou a única fonte ‘on demand’ de energia e de eletricidade” e que as fontes renováveis “são o presente e o futuro”, embora “ainda com muitos desafios de intermitência, densidade e armazenamento”.
“Se, por exemplo na Alemanha, tal como em Portugal, não há diversidade de fonte e se está dependente do gás (posto o phase-out do carvão e do nuclear), ao menos tem que haver diversidade de fornecimento, como em Portugal, têm que existir terminais portuários e/ou interligações diversificadas”, defendeu.
O próprio gasoduto Europe Maghreb [Pipeline (EMPL)], da Sonatrach e que abastece a Península Ibérica, “é uma fonte de diversificação face a Leste. Sendo que hoje, não menos por questões geopolíticas entre Marrocos e Argélia, representa apenas 10% das nossas importações, quando há cinco anos era metade”.
“Vale precisamente termos a alternativa TGN do Porto de Sines. O TGN de Sines poderia, no imediato, acrescentar um segundo jetty para descarga (e subsidiariamente carga), poderia ser feita mais tancagem no mesmo local, o Porto de Sines poderia acolher mais terminais e infraestruturas de armazenamento e regasificação; e assim contribuir para o reforço do abastecimento da Europa”, apontou.
França “tem bloqueado o gasoduto MidCat, o reforço da capacidade de transportar gás natural da Península Ibérica para o resto da Europa. Por que quer mais mercado para a sua eletricidade de fonte nuclear? Provavelmente”, questionou.
“Temos que pugnar no seio da UE pelas urgentes interligações transpirenaicas de transporte de gás natural (e já agora de gases renováveis) e a maximização da Península Ibérica (no nosso caso Sines, no caso de Espanha: Huelva, Cartagena, Sagunto, Barcelona, Murgardos e Bilbao) como porta de entrada de gás além-mar na Europa. Seja de África, das Américas ou do Médio Oriente. Em concorrência, mas também complementaridade, da inevitável construção de terminais de gás natural, tancagem e infraestruturas de regasificação no Norte da Europa”.
Considerando que “para se ter segurança energética na Europa, neste contexto em que nuclear e o carvão são – e cada um pela sua boa razão – preteridos em relação ao gás, tem que haver diversidade de fornecimento, redundância e reservas”.
“Sobretudo importa aprofundar a integração europeia, a PESC (Política Externa e de Segurança Comum), bem como a aliança transatlântica (NATO) e alargar o seu escopo à energia e à economia, não só em torno do gás natural, mas relançando o TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), que foi negociado, infelizmente sem sucesso, entre 2013 e 2016, sendo o propósito mesmo abandonado pelo Conselho em 2019″, concluiu.