Descoberta imagem de Santo André durante obras de restauro da Igreja Matriz de Santo André
Escrito por Helga Nobre em 25 de Novembro, 2021
As obras de restauro do retábulo-mor da Igreja Matriz de Santo André, no concelho de Santiago do Cacém, puseram a descoberto uma escultura “em pedra maciça” da imagem de Santo André crucificado. O achado está “em pleno estado de conservação” e é “o único que se conhece” em Portugal que remonta ao séc. XIV.
A descoberta da imagem de Santo André (apóstolo, irmão de São Pedro), ocorreu durante as obras de restauro do retábulo-mor da Igreja Matriz de Santo André, a cargo de uma equipa de conservadores-restauradores da empresa Arterestauro – Conservação de Bens Culturais.
A escultura da idade medieval (século XIV), que terá sido “entalhada” atrás do retábulo, encontra-se “em pleno estado de conservação, a nível de suporte”, refere a equipa de restauradores, composta por António Salgado, Joana Dias e Teresa Marreiros, num artigo publicado no jornal Diário do Alentejo.
Em declarações à rádio M24, o conservador António Salgado, mostrou-se satisfeito com a descoberta, sendo um entre outros achados em que a empresa já esteve envolvida, considerando ser “muito gratificante” a “descoberta de esculturas ou de pinturas subjacentes” durante este tipo de trabalhos.
A imagem do padroeiro de Santo André, com 81 centímetros de altura e 45 centímetros de largura máxima, tem suscitado o interesse de especialistas em aprofundar o estudo da escultura, como é o caso da professora do departamento de História de Arte, da Universidade Nova de Lisboa, Carla Varela Fernandes.
“É uma novidade porque não temos imagens de Santo André do século XIV crucificado. Numa cruz em aspa, como se fosse um sacrifício, só tínhamos do século XV em Portugal”, afirmou.
Por se tratar de uma etnografia conhecida apenas, em Portugal, a partir do século XV, a descoberta assume uma relevância especial.
“Agora percebemos que, pelo menos um século antes, existe [a imagem de Santo André] representado da mesma maneira, muito parecido com aqueles que existem do século XV, mas com um aspeto e uma forma de trabalhar à imagem do século XIV”, referiu.
A escultura foi construída “em pedra” e tem uma policromia (multiplicidade de cores) “que não podemos garantir se é a original”, disse a historiadora, considerando ser interessante “um estudo dos vestígios de policromia e que se levasse um bocadinho mais longe o estudo da peça”, observou.
De acordo com a especialista, tudo indica que se trata de “uma imagem de um retábulo que pode ter sido destruído” durante o terramoto de 1755 ou “substituído por um mais moderno”, durante o século XVI.
Devido ao terramoto “a Igreja sofreu bastante” e terá sido necessário construir “um novo retábulo barroco”, o que permitiu que a imagem permanecesse “escondida, num sítio bastante alto, claramente, para estar fora do olhar do público, mas para não ser destruída”, explicou.
“Normalmente não se destroem as imagens sacras, mesmo quando passam de moda, enterram-se, emparedam-se ou escondem-se na sacristia, mas não se destroem porque são imagens sacras e deve ter sido isso que aconteceu a este Santo André”, frisou.
Além da imagem de Santo André, a equipa de conservadores-restauradores, encontrou “um documento que estava encaixado numa pilastra que era o desenho decorativo” do altar-mor.
O documento “foi restaurado e entregue ao pároco”, adiantou António Salgado.
Para o padre Abílio Raposo, da Paróquia de Santo André, estas descobertas “podem vir a mudar a própria datação da Igreja” Paroquial de Santo André.
Segundo a Junta de Freguesia de Santo André, a Igreja tem existência confirmada pelo menos desde o primeiro quartel do século XVI, altura em que o manuelino se afirmava nas construções nacionais e deixava marcas em quase todos os templos do País: desta maneira a antiga ermida de Santo André também não escapou a esta regra.
Na segunda metade do século XVIII, a igreja possuía três altares (Santo André, Nossa Senhora do Rosário e São Geraldo) e duas irmandades, a do Rosário e das Almas. Entre 1815 e 1839, o templo foi reedificado, devido à ruína provocada pelo terramoto de 1755, tendo sofrido posteriores destruições com o terramoto de 1858.
A sua arquitetura destaca no exterior a fachada principal, com a sua torre sineira e o seu frontão barroco tardio, e, no interior, o portal do baptistério – peça manuelina que ostenta o brasão da Ordem de Santiago e a Cruz de Santo André, e o retábulo do altar-mor, de influência tardo-rococó, refere uma publicação da autarquia.
As descobertas foram comunicadas aos responsáveis da Comissão Diocesana de Arte Sacra da Diocese de Beja.