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Villa Romana de Santa Catarina de Sítimos atrai estudantes internacionais

Escrito por em 28 de Agosto, 2024

A Villa Romana de Santa Catarina de Sítimos, em Alcácer do Sal, recebeu, entre 06 e 22 deste mês, um grupo de estudantes internacionais, participantes de uma Escola de Verão da ArchaeoSpain, empresa parceira neste primeiro ano de escavações.

Os trabalhos desenvolveram-se no âmbito do projeto SITIMUS – Salvaguarda e Valorização da Villa Romana de Santa Catarina de Sítimos, um projeto plurianual de investigação em arqueologia que terá a duração de quatro anos.

Promovido pelo Município de Alcácer do Sal, através do setor de Arqueologia, Património e Museus, o projeto é desenvolvido por investigadoras do CIDEHUS (Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades) da Universidade de Évora e o CECH (Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos) da Universidade de Coimbra – unidades de investigação financiadas pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia).

Estes trabalhos arqueológicos contaram, ainda, com o apoio da União das Freguesias de Alcácer do Sal (Santa Maria do Castelo e Santiago) e Santa Susana.
Descoberta em 1977 e escavada, pela primeira vez, no final dos anos 80 do século XX, a Villa de Santa Catarina de Sítimos foi intervencionada pela última vez em 2007.

Esta propriedade rural de época romana apresenta uma cronologia de ocupação que se estende do século I ao V d.C., e caracteriza-se pela prévia identificação de uma área provavelmente associada às termas, na qual havia já sido posta a descoberto uma grande piscina (natatio) com uma imponente escadaria de acesso, assim como pela existência de uma área dedicada à transformação, caracterizada pela existência de vários tanques associáveis a um hipotético lagar.

Os trabalhos agora realizados incidiram nos núcleos outrora intervencionados para obter mais informação sobre os diferentes momentos de utilização e melhorar a caracterização destes edifícios, alargando as áreas escavadas.

Na área da grande ‘natatio’, identificada por Setor A, uma piscina monumental que se observa logo à entrada deste sítio arqueológico, limparam-se e interpretaram-se os compartimentos conexos, conseguindo completar a planta dos compartimentos localizados a Este através da escavação dos depósitos superficiais. Os dados são ainda preliminares e confirmam o uso agrícola em época contemporânea.

A maior novidade foi a delimitação de dois compartimentos a Este com o pavimento em ‘opus signinum’ ainda preservado, um pavimento de argamassa com cerâmica moída utilizado em espaços com água, muito típicos em balneários ou termas romanas. Estes espaços articulam-se com um possível hipocausto, tendo-se identificado um estrato de cinzas que poderá estar associado a uma fornalha, que carece de confirmação em trabalhos futuros.

As cerâmicas encontradas e o estudo dos diferentes compartimentos deste edifício dão assim maior solidez à hipótese de estarmos perante um edifício termal, tão característico das ‘villae romanas’.

No setor B, área de implementação de um possível lagar para vinho ou azeite, foi possível identificar os limites de um novo tanque (de um total de quatro) e recolher amostras dos revestimentos impermeabilizantes que sujeitos a análises laboratoriais poderão ajudar a identificar o que aqui produziriam os romanos. Os trabalhos revelaram a existência de um edifício, pelo menos parcialmente coberto por um telhado, conforme parecem apontar os derrubes de telha escavados.

Neste setor foi, também, identificado um ‘dolia in situ’, ou seja, uma talha romana que servia para armazenar vinho, azeite ou cereais e que permite confirmar a existência de uma área de armazém.

Nos próximos meses, a equipa de Arqueologia irá dedicar-se ao inventário e ao estudo dos materiais agora recuperados, o que permitirá complementar a análise criteriosa das estruturas postas a descoberto no decurso da escavação.

O estudo da terra ‘sigillata’, cerâmica de mesa importada, contribuirá para uma melhor perceção sobre o período de ocupação da villa e permitirá analisar as relações comerciais desta propriedade agrícola com a cidade de Salacia, atual Alcácer do Sal, o porto romano mais próximo e ao qual chegariam mercadorias provenientes de todo o império.

A continuação dos trabalhos de escavação está já agendada para o próximo verão.

O ano de 2024 marca, assim, o início de um projeto de investigação que tem por objetivo não só ampliar o conhecimento arqueológico, alargando a área escavada da Villa Romana de Santa Catarina de Sítimos, mas sobretudo desenvolver um plano de salvaguarda e valorização que permita preservar o sítio arqueológico e torná-lo acessível ao público.

Uma investigação em prol da salvaguarda e da valorização, com a formação de alunos nacionais e internacionais para promover o turismo cultural e envolver a comunidade local. Neste âmbito, o projeto promoveu um dia aberto à escavação, no dia 16 de agosto, e recebeu a visita de um grupo de crianças e jovens do ATL da União das Freguesias de Alcácer do Sal, e um ‘workshop’ no âmbito da formação de alunos para a criação de conteúdos que aumentem a interpretação do visitante, bem como uma preocupação com a comunicação ‘online’ para assegurar a disseminação do projeto.

Este projeto é pioneiro na internacionalização e no estudo sistemático de um sítio arqueológico no hemisfério da grande cidade romana, Salacia, a Alcácer do Sal romana.


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